Gláucia Almeida - Da Redação
Foto: Associação de Moradores
A paciência chegou ao fim no bairro Jardim dos Pinheiros, em Cuiabá. Com duas décadas de existência, 141 casas e cerca de 485 moradores, a comunidade segue sem asfalto, rede de esgoto e drenagem de águas pluviais. Para chamar a atenção do poder público, os moradores penduraram faixas em vias de acesso, com mensagens como "socorro" e a exigência de asfalto "já".
O Jardim dos Pinheiros se localiza em uma área estratégica. O bairro se estende da Avenida Palmiro Paes de Barros, onde há um grande conjunto de apartamentos em construção, até as margens do São Gonçalo Beira Rio, conhecido polo gastronômico de peixarias em Cuiabá. Essa posição, cercada por empreendimentos, contrasta fortemente com a falta de serviços básicos: nem mesmo a área em frente à Estação de Tratamento de Água Sul (ETA Sul), situada no bairro, possui pavimentação.
A ausência de infraestrutura compromete o dia a dia de empresas instaladas na região — que vão de uma fábrica de açaí a uma marmoraria, passando por lavanderia, esquadrias de portas e janelas e até uma empresa de elevadores e automação com mais de 60 funcionários. Segundo levantamento da associação de moradores, 198 pessoas dependem diariamente do transporte coletivo.
Um dos maiores dramas, relatam os moradores, é o transporte público. Rafaela Mata, comerciante da região, afirma que os ônibus dão voltas por outros sete bairros para chegar ao Jardim dos Pinheiros, quando conseguem completar o trajeto:
" As crianças saem de casa às seis da manhã para chegar à escola às sete, isso quando o ônibus passa. Nos fins de semana, simplesmente não temos linha, por causa do movimento nas peixarias do São Gonçalo Beira Rio. É muito triste. Tentamos resolver há anos, mas nunca conseguimos. Não há sequer cobertura nos pontos: enfrentamos sol e chuva sem proteção".
A proximidade com o tradicional São Gonçalo Beira Rio, que deveria facilitar o acesso, se torna um problema nos fins de semana. Devido ao fluxo intenso de veículos que se dirigem às peixarias, os ônibus deixam de circular, deixando os moradores do Jardim dos Pinheiros isolados.
"Prefeito não sabia onde ficava o bairro"
O presidente da Associação de Moradores, Nathanael Sodré Santos, afirma que diversos pedidos já foram protocolados junto à Prefeitura de Cuiabá. O mais recente, em 4 de agosto deste ano, solicita a execução de pavimentação, rede de esgoto e drenagem fluvial.
" Sempre prometem, mas, depois da eleição, desaparecem. Já vieram muitos vereadores, mas nenhum trouxe resultado concreto. O pior é que, quando procuramos o prefeito, ele nem sabia onde ficava o bairro " diz Nathanael, evidenciando o que considera um descaso.
A indignação da comunidade foi registrada em um vídeo publicado nas redes sociais nesta segunda-feira (15/09). Nele, a moradora Giselly Fortes caminhou pelo bairro ao lado do presidente da associação e criticou a inação do poder público:
" Aqui não tem asfalto, não tem rede de esgoto, não tem meio-fio, não tem nada. E olha que a ETA Sul, a estação de tratamento de água, fica ao lado. Nem na frente da ETA tem pavimentação! O prefeito fala tanto em fazer, fazer, fazer, mas o bairro completa 20 anos sem nada".
Giselly reforçou o pedido para que o prefeito visite o local e criticou vereadores que, segundo ela, priorizam bairros mais ricos:
" Está na hora de colocar o pé na terra e olhar para esse povo aqui!"
Apesar da ausência de infraestrutura básica, o carnê do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) chega anualmente às residências do Jardim dos Pinheiros. Para os moradores, a cobrança de impostos sem o devido retorno em serviços públicos escancara a desigualdade no tratamento dado a diferentes regiões da capital.
Com faixas de protesto penduradas à beira da estrada, a comunidade quer visibilidade. “Queremos apenas o básico: asfalto, esgoto e transporte digno. Estamos cansados de esperar”.
Confira vídeo:
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